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domingo, 7 de julho de 2013

Soberano

"Somos um povo soberano", diz o médico do Bloco de Esquerda que talvez sonhe ser ministro da Saúde da sonhada Frente Popular. Mais uma pérola para o anedotário nacional.

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Desassossego I

"Quando escrevo, visito-me solenemente."

Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Assírio &Alvim, 2006, pág. 287

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Credo

Credo! Mais de um ano sem tocar no blogue. Não mereço a minha alfabetização, não mereço este cérebro.Que proprietário desleixado sou. Se me calhasse um prédio, teríamos tragédia.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto


Estou triste. Morreu, com 59 anos, injustamente cedo, Maria José Nogueira Pinto. Não a sabia doente. Sei agora que não se escondeu. Que levou até ao fim as suas actividades. Que morreu com dignidade espantosa.Vi-a numa qualquer conferência na Universidades Lusíada em 1993 ou 1994 e fascinaram-me os seus olhos, a sua elegância e a sua segurança comunicativa. Cativou-me não ter vergonha de ser de direita e ter acreditado no Portugal pluricontinental. Admirava-lhe o exílio e o refazer, bem sucedido e sem rancor, da vida. Admirava-lhe a inteligência e a cultura, a competência profissional e a combatividade. Foi esposa, mãe, directora da maternidade Alfredo da Costa, provedora da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, vereadora, deputada, escrevia para jornais e debatia na TV. Vai fazer falta esta enorme senhora que serviu tão bem o país.

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sinistro viveiro

É frequente sentir que o PS é um viveiro de criaturas repulsivas. Não creio que seja por ser pessoa que precisa de me alimentar com muita repugnância. Não sou azedo e adoro doces. Gosto de encontrar concordâncias quando me envolvo em discussões. Mas quando calha ouvir beltrano ou fulano do PS, a sensação aparece. Talvez a moralidade geral do meio explique por que tal tipo de gente ali conflua para ganhar a vida e fazer ao País as maravilhas que estão à vista. Talvez as demonstrações pessoais das maiores características identitárias do PS, que são a sua proverbial incompetência governativa, o seu espírito sectário e a sua táctica flexível, expliquem o que sinto.
Da primeira não vale a penar falar. É apenas espantoso que não assuma consequências judiciais para alguns.
O sectarismo é aquela invencível mania de se achar sempre na posse da razão e ao lado dos supostos bons "ventos da história". A realidade desmente-o, mas para o PS a realidade é uma sacana que merece desdém e ignorância e que não atinge a sabedoria do partido. O PS não se engana e não erra, o PS é boicotado pelo mundo que muda em 15 dias ou não é compreendido por portugueses manipuláveis.
Por isso, o PS não se interroga sobre a sua governação, não assume qualquer responsabilidade pelos falhanços e encara o Estado como património a ser gerido em função dos interesses dos fiéis. Por isso, o PS não se sente diminuído por fazer disparar a dívida pública ou aumentar os impostos ou constrangido à auto-crítica. Ao PS não interessa, na verdade, a prosperidade do país. Bastam-lhe as boas intenções, isto é, a demagogia comum, e a lembrança das proezas de 1974/76. Ao PS moldado pelo "grande líder" só importa ganhar eleições e usufruir do poder pelo poder, para proveito e multiplicação da seita e para impedir que o rival o ocupe.
Esta tara existencial explica a sua perene versatilidade táctica, que lhe permitiu defender a "construção de um sociedade socialista" e "meter o socialismo na gaveta" com igual desenvoltura, que o encoraja a alianças municipais e acordos presidenciais com comunistas e a revisões constitucionais com o PSD, a lamentar a magreza da soberania nacional quando é o mais federalista e internacionalista dos partidos portugueses. O PS é um híbrido altivo. O defensor da igualdade que mais acentua as desigualdades reais. Um vira-casacas sem dramas de consciência, que imita com gosto os partidos irmãos de Paris, Madrid ou Estocolmo. Se amanhã desistissem da "construção europeia", o PS renegá-la-ia com zelo.
Sendo assim, não admira que os melhores se afastem ou sejam afastados e não admira que pessoas torpes como Ana Gomes acabem eurodeputadas.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Passos

Domingo, 5 de Junho, foi um alívio e uma alegria. Portugal libertou-se finalmente da impostura e da infâmia de Sócrates. Durante 4 anos, a esquerda berrará, mas não causará danos. Os inimigos das liberdades e da economia de mercado, que queriam a revolução em vez do empréstimo, PC e Bloco, não chegaram, juntos, aos 14%.
Pela primeira vez, votei PSD. Ou melhor, votei Passos Coelho. Bem preparado, ciente da realidade, frontal, ouvindo e olhando quem com ele falava, parece-me pessoa decente e sensata. Decência e sensatez que faltaram ao Governo nos últimos 6 anos. Este PS, que se julga indispensável ao país, que idolatrou o "tiranete", merece 20 anos de oposição.

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Furet I




Leio, com muito deleite e algum proveito, o formidável Le Passé d´une illusion, de François Furet.



"L´antifascisme avait doné un vernis occidental au communisme, et l´anticommunisme un certificat de civilisation au nazisme. Les deux régimes monstrueux du siècle avaient apprivoisé l´opinion démocratique à travers leur antagonisme." (p. 572)




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domingo, 22 de maio de 2011

O inimputável

O circo eleitoral está de volta. Para meu ingénuo espanto, verifico que o demagogo que conduziu o Estado à falência, cujas decisões fizeram disparar o défice orçamental e o desemprego, a massa tributária e as falências, foi autorizado a candidatar-se. Um homem que deveria estar a caminho do exílio ou a ser observado por psiquiatras ou a preparar-se para se defender em Tribunal, vai pela terceira vez bombardear o país com mentiras, sacudindo responsabilidades e vitimizando-se. A partidocracia é a inimputabilidade dos incapazes e dos descarados.

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domingo, 23 de janeiro de 2011

Eleições 2011

Ai é tão bom quando os socialistas são esmagados! Dá-me uma sensação - passageira, é certo - de que ainda há nos negócios públicos, um vestígio de bom senso, de decoro, de justiça. Cavaco ganhou sem brilho e o regime, cada vez mais ilegítimo, perdeu com inconsequente estrondo: 52% dos eleitores abstiveram-se, cientes da inutilidade do acto e da miséria moral do sistema.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pensar as eleições

A explosão da crise financeira do Estado ainda não produziu uma reflexão sobre os seus alicerces. A má gestão do Estado é incontroversa. Despesas descomunais e supérfluas, endividamento galopante, serviços medíocres ou desnecessários. O Estado transformado em agência de emprego das clientelas partidárias e em agente de negócios com quem financia os partidos. O Estado adulterado que massacra e empobrece o País com impostos. Incapaz de se regenerar. De reconhecer a incapacidade e delegar em quem saiba, como o ensino o prova. O facciosismo cega. A desonestidade é teimosa. Tudo isto é do comum conhecimento, negado apenas pelos seus promotores e beneficiados.
Ora, nesta "hora de gravidade" nenhum comentário ou discussão topei sobre a validade dos mecanismos que permitem que o Estado seja gerido por pessoas sem preparação técnica e sem categoria moral. Continua a ser aceitável e acertado que qualquer criatura possa chegar ao Governo. O sagrado voto legitima e confere a dignidade para o cargo. Eleger o chefe do Governo, mediante a eleição de 250 deputados, continua a ser inalienável. Não basta eleger o Presidente da República. A crença arreigada de que as liberdades exigem o circo da participação popular. E as eleições geraram Sócrates. Que entretanto falhou as suas promessas, que há-de entregar o barco bem pior do que o recebeu. Não cumprir é coisa inofensiva. Mentir reiteradamente não afecta a legitimidade democrática. O contrato só pode ser rasgado pelo subscritor a quem a tropa e os polícias devem obediência. E Sócrates não é um acidente. É a coroa de um sistema assente na irresponsabilidade, na impunidade, na demagogia A culpa não é só do demagogo. E quem o parece travar são poderes estrangeiros que os portugueses não elegeram. A soberania popular é uma ficção caríssima.

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Democracia

"The best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter."

W. Churchill

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Não lhe dou cavaco

Cavaco anunciou que quer continuar Presidente. São mais cinco anos cheios de compromissos, de viagens pelo "país real", inaugurando, discursando, sorrindo, para excitação da província; uma agenda cheia que na velhice é coisa preciosa para dela se distrair um pouco. Ganhará sem o meu voto. Além de inútil, seria imerecido: Cavaco confiou no Governo, proporcionou-lhe todas as "condições de estabilidade"e o Governo fez-se surdo aos seus apelos e avisos. Foi enganado e aguentou Sócrates. Não percebeu a evidência de que o interesse nacional exigia prioritariamente a remoção de Sócrates. É também, por isso, responsável pelo descalabro. No dia das eleições, vou passear com a Sandra.

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Marcello


Marcello Caeteno morreu há 30 anos. A sua envergadura intelectual, a sua competência catedrática, o ministro da presidência que coordenou o II plano de fomento, o chefe do Governo que voltou da visita aos territórios ultramarinos maravilhado com o seu crescimento e decidido a não os abandonar, que alargou a previdiência; o exilado amargurado que não desculpou as deslealdades, o orgulhoso indignado com a destruição da obra de "progresso em paz", justificam a lembrança.

Em finais de 1943, Marcello, então comissário-nacional da Mocidade Portuguesa, escreve a Salazar, preocupado e "desiludido" com o que observa e sente. Os custos materiais da neutralidade diminuíam a popularidade do regime. As importações tinham que ser duramente negociadas com os ingleses. Havia dificuldades no abastecimento alimentar e nos transportes, rebentavam greves na cintura urbana de Lisboa, o aparelho corporativo prodigalizava deficiências. Salazar tinha nos trabalhos diplomáticos a sua prioridade. Marcello, com exagero, alertava e criticava.


"Senhor Presidente


Desculpe-me esta nova carta. As outras não foram muito bem sucedidas - e os factos demonstram que foi pena. Mas volto a insistir: era e é necessário cuidar do ambiente moral do País, que está péssimo. Péssimo.

o Governo tem-se mantido, alheado da Nação: não atende, não explica, não apoia, não incita, não dirige. As pessoas mesmo que têm responsabilidades de comando vivem sem directivas. Os descontentamentos são gerais, antigos e descurados: estão descontentes o Exército, a Marinha, a GNR, a Polícia, o funcionalismo... E tudo se deixa andar, e todas s soluções vêm tarde e a más horas, e o Governo só se afirma na repressão... Desprestigiou-se a organização corporativa, deu-se cabo dos Sindicatos Nacionais, abandonaram-se homens e princípios: não admira, por isso, que no momento de crise só se veja tudo a aluir - este panorama terrível de cobardias e de defecções.

Têm ocultado a V. Ex.ª o verdadeiro estado moral do País? O entusiasmo geral pela Rússia? A oposição ao Governo? Só assim se explica que nos momentos graves o Secretariado da Propaganda Nacional se limite a exibir bailados e a Emissora Nacional pouco mais dê que música de dança.

Os métodos de repressão indiscriminada e brutal não são de força. A força é segura de si, equilibrada e justa. Não deixe V. Ex.ª que os seus colaboradores percam esta noção.

E creia na sinceridade do desiludido mas fiel

Marcello Caetano

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Bruxelas perdoa

Dia memorável para a nossa ditosa República: Bruxelas investigou e apurou que "o método de fornecimento dos primeiros computadores Magalhães é ilegal face ao direito comunitário". Sem penalidades, limitou-se a puxar-nos as orelhas, arquivando a infracção.
Como é sabido, antes da chegada do Magalhães, os alunos não aprendiam, por falta de equipamentos que lhes estimulassem o cérebro. As crianças choravam, os professores desesperavam. Comovido com o sofrimento de uns e a impotência de outros, aterrado com o futuro da Nação, o Governo, generoso, consciencioso, comprou os desejados computadores. E uns e outros recuperaram a alegria de aprender e ensinar. E aqui termina a fraca fábula. Na verdade, os computadores não faziam falta alguma. Eram um luxo que o respeito pelo dinheiro dos contribuintes desaconselhava. Mas o Governo, que adora brinquedos com ecrãs, botões e teclas, prefere dar-se a imagem de modernizador e decidiu modernizar as escolas com centenas de milhares de computadores que custaram centenas de milhões de euros. Esqueceu-se de respeitar as regras da concorrência. Esqueceu-se de pensar no controlo da despesa. Não lhe importaram tais escrúpulos: acima dos códigos de contratação pública paira uma lei que autoriza o governo a ignorar impunemente a lei e a prejudicar impunemente o país.

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Frouxo Cavaco

Como na televisão da minha mãe o merecido fisco do milionário Real Madrid me entretinha, não me ocorreu espreitar as estações que por cá existem. Perdi, por isso, a entrevista do Presidente da República à televisão do Estado, feita por uma jornalista, irritante, que tem um vencimento superior ao do Presidente.
Hoje, os jornais noticiam a entrevista e o Público destaca que "Cavaco não acredita no desconhecimento do Governo sobre o negócio PT/TVI". Como o Governo tem afirmado, aos jornalistas, ao Parlamento, que o desconhecia, Cavaco lá se permitiu sugerir que não acredita na sinceridade do Governo ou, o que é o mesmo, que acredita que o Governo tem mentido. Mas, triste e elucidativamente, para Cavaco, não confiar na palavra de Sócrates é coisa insignificante, que não afecta "as suas relações de trabalho normais" e a "cooperação estratégica" com o Governo, que não deve beliscar a estabilidade politica. Para mim, é sobretudo uma lição de irresponsabilidade e de cínica "ética republicana", a do Presidente que não quer assumir a responsabilidade de correr com Sócrates de S. Bento.

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O médico que mata o poeta

Os OCS noticiam que o "fundador e líder da Assistência Médica Internacional, o médico Fernando Nobre, vai candidatar-se à Presidência da República."
Parece-me bem. A República faz 100 anos e exibe naturais e notórios problemas de saúde. Se eleito, espero que tenha mais sucesso que António José de Almeida, também médico, Presidente entre 1919 e 1923, que muito se terá cansado com os sucessivos governos que era obrigado a sancionar e muito se assustou com o assassinato do chefe do governo António Granjo, morto, com "extremos requintes de crueldade", pela soldadesca bestializada, no Arsenal da Marinha em 19 de Outubro de 1921.
Retomo o fio à meada. A notícia é-me simpática por este simples motivo: prejudica o poeta-deputado Alegre, que triste criatura sempre me pareceu, um moralista egocêntrico que nos massacra com a retórica da "esquerda", ai o que seria do mundo se não fosse a superioridade moral da esquerda, ai a esquerda que é tão generosa, tão promotora da igualdade, tão optimista e tão amiga dos desfavorecidos, que é misterioso como este regime de esquerda com 35 anos de existencia tolera 2 milhões de pobres; uma criatura que teve o desplante de se declarar patriota e de dizer querer "servir Portugal" como Presidente e que fugiu de Coimbra, onde tinha residência fixa por condenação judicial, para se "exilar" em Argel, esmerando-se aí a atacar na rádio o "colonialismo do governo fascista" precisamente quando Portugal começava, a sério e em profundidade, a tratar dignidade as populações africanas, exilado logo em Argel, para satisfação do governo argelino, que apoiava com dinheiro e armas os guerrilheiros que matavam soldados portugueses em Angola; e por prejudicar os objectivos deste senhor, agrada-me que o médico Fernando Nobre entre na disputa eleitoral.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Venezia



















No final de Novembro fui a Veneza, acompanhado pela minha mimada namorada que prefere não mostrar a cara. A cidade é famosissíma. Hoje já não distribui especiarias e produtos orientais pela Europa, hoje é massivamente visitada por orientais. É um museu vivo, que combina majestosidade e decadência, explorando lucrativamente o passado em lojas que não têm fim. É uma obscenidade estética, de tão esmagadora. Os portugueses minaram-lhe o comércio, os franceses invadiram-na sem custo, os austríacos acenderam-lhe a nostalgia. Hoje, são todos satisfeitos clientes.

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Ficou-se

Ouvi e li, há poucos dias, Pires de Lima e Marcelo Rebelo de Sousa, chamarem, respectivamente, "ladrão de feira" e "mentiroso" a José Sócrates. Normalmente, tais apreciações seriam consideradas ofensas, difamações, passíveis de punição e reparação judiciais. Mas, eis a surpresa, o vaidoso visado não reagiu. O Primeiro-Ministro, talvez por achar desfasado o Código Penal, talvez por generoso entendimento da liberdade de expressão, talvez por cristã disposição para perdoar a quem o ofende, talvez por não confiar na eficiência do sistema judicial, ficou-se. Ou talvez, segreda-me judiciosamente o meu cão, o "chefe" receasse que os processos que não quis desencadear fariam prova das imputações.

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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eleições I

Como me dei ao trabalho de fazer na cruz no quadradinho do Paulo Portas, como acompanho estes actos desde o distante ano de 1985, como ainda tenho a esperança de um dia ganhar a vida escrevendo banalidades e como neste outrora dinâmico blogue mando eu, permito-me "esmiuçar" as eleições de domingo. Justificado, aventuro-me no exercício.
O PS perdeu mais de 500 mil votos, mais de 20 deputados, ficando pelos 36%, obrigado a arquivar a sua prepotência e a convocar o espiríto de negociação que detesta. Viciado em impor, terá que ceder, arreliar-se, ser polido, engolir propostas alheias. Com a satisfação do trabalhador que escapou ao despedimento, do marido a quem foi perdoada a infidelidade, Sócrates disse aos microfones ser uma "vitória extraordinária". E foi. Sobreviveu às promessas falhadas. Sobreviveu ao aumento do desemprego, do endividamento externo e das despesas do Estado. Sobreviveu à continuação da paródia do ensino e da justiça. Sobreviveu às investigações do jornal Público, que em vez de o levarem à demissão, apenas provaram imoralidade ou o desinteresse dos Portugueses, e a ficção que é achar-se a comunicação social o 4.º poder, quando é sobretudo agência de publicidade da classe política, entretenimento que nos alimenta a morbidez e a pena, nos ajuda a sonhar com viagens, nos estimula a consumir produtos culturais, vendendo-nos a ilusão de que estamos informados, temos opiniões, nos prestam contas e somos civilizados.
Optimista por artíficio, desenvolto a vitimizar-se, descarado a vangloriar-se, eficiente na distribuição de favores e na intimidação, patrão de um partido-polvo disciplinado, vocacionado para exercer o poder em seu próprio proveito, fodendo-nos sem escrúpulos se necessário, Sócrates sobreviveu por tempo ainda indefinido.
E com tantas linhas sérias dedicadas ao engenheiro, quase perdi a vontade de discorrer sobre o melhor político português desde Sá Carneiro: Paulo Portas. Mais logo, pego nele, salvo seja.

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sábado, 15 de agosto de 2009

31 da Armada

Diverti-me a valer com a brincadeira dos meninos do blogue 31 da Armada, que subiram, durante a madrugada, à varanda dos Paços do Concelho, removeram a bandeira do município e hastearam a bandeira da monarquia constitucional. A acção foi filmada, divulgada e muito comentada. O Senhor D. Duarte não foi coroado rei de Portugal, mas a República foi merecidamente ridicularizada.
Foi gozada a Câmara Municipal de Lisboa. Monstrinho burocrático, patrão generoso, caloteira que vive acima das possibilidades, afogada em dívidas e empréstimos, a câmara não tem, entre os seus 10.000 funcionários, quem vigie a sua principal casa enquanto os serviços fazem ó-ó.
Foi gozada a gloriosa Polícia de Segurança Pública, entidade sempre disponível para registar as queixas das pessoas que são assaltadas por jovens delinquentes que fazem as delícias dos serviços assistenciais, e que possui mais de 25.000 funcionários nos seus quadros. Nas traseiras dos Paços do Concelho, a cerca e 50 metros, está uma esquadra da PSP. Por que não defenderam a varanda da ilegal invasão, os defensores da lei? Lanço algumas possibilidades, para escolha do improvável leitor e contribuição para o putativo inquérito que possa efectuar-se: a) os polícias estavam a dormir; b) os polícias estavam entretidos a conversar e a ver televisão; c) os polícias tinham saído para uma bifana e uma imperial; d) os polícias foram pagos pelos bloguistas para não agir; e) os polícias estavam a namorar e o amor não se interrompe, era o que faltava.

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sábado, 18 de julho de 2009

Alberto João

Não posso deixar de enviar um abraço amistoso, um sorriso compreensivo, ao Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, que teve a bondade de provocar as hostes, sugerindo a conveniência de se ilegalizarem os partidos comunistas. Como a Constituição proíbe a existência de organizações fascistas e racistas, Alberto João entende ser lógica a proibição de grupos que se reclamam do marxismo-leninismo, que apoiaram os cleptómanos e sanguinários socialismos africanos, que ainda admiram, aberta ou discretamente, Estaline, Mao, Fidel e outros ilustres déspotas. E Alberto João está certo: ou se autoriza a existência de todos ou se proíbe a existência de todos aqueles não apreciam a democracia e a ambicionam abolir: a discriminação macula e diminui o o sistema democrático, que altivo e forte, não devia recear a oposição; anula a solidez filosófica e a idoneidade jurídica do sistema, que não deve impedir a alguns a liberdade que teoricamente o caracteriza. Dando como certa a continuidade do sistema, dada a tutela da patroa União Europeia e ausência de elites que corporizem uma alternativa consistente, sou pela defesa da variedade ideológica, pela livre expressão das aberrações, sejam elas o comunismo, o racismo, as previsões astrológicas, os concursos das televisões, a futilidade dos diários desportivos.
Mas o milagre da ilegalização dos comunistas, que não se dará, seria uma oportunidade para muitos portugueses: como algumas dezenas de milhares teimariam em actuar colectivamente, o Estado teria que os perseguir: haveria mais polícias, mais juízes, mais cadeias. Os presos, que poderiam ler Cunhal na suas bem equipadas celas, libertariam milhares de vagas na comunicação social, nas editoras, nos sindicatos, nas artes subsidiadas, na administração municipal. O aumento da despesa pública que a repressão acarretaria, seria compensado com a poupança decorrente da diminuição das greves, com o aumento da produtividade do funcionalismo público e, ironicamente, com a ligeira subida da taxa de IRC tributada às entidades bancárias. É tentador, não é?

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

R de Ronaldo

Espreitei pela televisão, enquanto jantava graças à inesgotável generosidade da minha mãe, a apoteótica apresentação pública de Ronaldo como jogador do Real Madrid. Compreendi que estivesse com aquele sorriso triunfal e orgulhoso: dedicou muitas horas a refinar o seu talento e a desenvolver o seu corpo magnífico, entregou-se com muita confiança e ambição ao objectivo de integrar a elite dos craques do mundo da bola. Não pode senão estar contente quem saiu da pobreza anónima e chegou com merecimento à milionária fama mundial em dez anos. Compreende-se a felicidade de Ronaldo. O que não digiro é a atitude das televisões que, intencionais ou sem darem por isso, teimam em tratar os espectadores como idiotas e a si próprias se desqualificam. Será que o jornalista eufórico por relatar em directo a entrada de Ronaldo num jacto particular tem consciência da sua miserável figura? Será que os responsáveis por aquilo que deve ser objecto de notícia se dão conta de que os banais actos privados de uma vedeta não são jornalismo? Na verdade, pouco importa: fazem-no e continuarão a fazê-lo, alheios a princípios deontológicos, consolados pelas audiências e pela impunidade que o mau gosto, a falta de decoro e a demissão normativa do Estado proporcionam. Nas televisões, o lixo gerado engole quem o produz.

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vendada

Não é preciso indicar que se trata de mais um lapidar cartoon do melhor cartoonista português, Afonso, o alentejano.

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

14 de Maio


Na madrugada do dia 14 de Maio de 1915, a Marinha revoltava-se contra o governo do general Pimenta de Castro, um cacique militar que tinha adiado as eleições, adiado a abertura do Congresso, e que, para cúmulo, se atrevera a flirtar os monárquicos. Lisboa foi bombardeada pelos navios de guerra. Em terra, milhares de civis armados juntaram-se aos insurrectos no Arsenal. Os combates duraram pouco, que a tropa destacada para sufocar o golpe preferiu mudar de lado a morrer sem glória. Depois de terminados aqueles, começou a revolução, com os militantes do Partido Democrático, que se tinham por zelosos defensores da jovem República, a tomarem conta da rua. Foi o pandemónio: assaltos e ataques a casas de adversários, a centros monárquicos, a jornais, a esquadras de polícia, a quartéis, ao governo civil. A ordem ajoelhada, o ódio vingativo imperante. Houve mais de 200 mortos e 1000 feridos. Naqueles dias, "Lisboa parecia uma cidade siciliana a braços com uma guerra entre mafias rivais." Em 2010, o regime que protagonizou este e outros exemplares episódios, será lembrado com muita pompa, muita despesa, muitos elogios, porque a República, agora velha, faz 100 anos.

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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Amigo Vasco

"Olá amigos", eram as suas primeiras palavras. Durante anos a fio, Vasco Granja, com voz tranquila e sorriso cumplíce, qual avô paciente, partilhou o seu imenso conhecimento dos "desenhos animados" com a garotada da época. Eu, e muitos dos que hoje estão na casa dos 30, devemos-lhe muitas horas de divertimento e de suave pedagogia. E como nos deu a Pantera cor-de-rosa e o Bugs Bunny, não custa desculpar-lhe o abuso dos filmes que vinham da Polónia e da Checoslováquia. Tinha 83 anos e ninguém o substituiu.

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sábado, 31 de janeiro de 2009

Parlamento anedota

A mãe leva a filha à Assembleia da República. Conforme entram, a mãe diz-lhe:
- Agora tens que estar caladinha. Sabes porquê, não sabes?
- Sim, porque estão pessoas a dormir.

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A queda do menino de ouro

Puxa, o Público, teimoso, não dá descanso ao nosso primeiro-ministro. Depois de nos dar a conhecer a impecável história da sua licenciatura e de divulgar os bonitos projectos de habitação do engenheiro em começo de carreira que sensatamente abandonou, o jornal volta ao passado do «menino de ouro do PS» e devassa agora as minúcias adminstrativas do processo de aprovação do empreendimento comercial Freeport, lançando suspeitas sobre a honestidade de Sócrates, ao entrever a forte possibilidade de ter havido pagamentos a Sócrates e seus colaboradores. Gabo o trabalho de investigação do Público. Mas quem não é funcionário do PS, ou filho de deputado do PS, ou sobrinho de vereador do PS, ou amante de secretário de Estado do PS, ou esposa de ministro do PS, ou avençado de ouro de um ocioso gabinete ministerial, há muito que não tem ilusões sobre o valor ético de Sócrates e sobre a urgência de nos livrarmos da criatura. Afastá-lo do cargo que nunca deveria ter ocupado, é devolver alguma decência à vida pública.

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domingo, 21 de dezembro de 2008

Lápide

Lápide. Aforisma. Axioma.
«Portugal é uma comédia para quem pensa e uma tragédia para quem sente.»

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Açoreanos

Houve eleições nos Açores. A banalidade do acto não mereceria registo, se não se tivesse dado um notável facto, mesmo que destituído de qualquer consequência política ou jurídica. Apesar de insistentemente convidados a participar, apesar de muitos terem sido pagos para agitar bandeirinhas, bater palmas e sorrir enquanto distribuíam panfletos, a maioria dos eleitores absteve-se. Mais de 53% dos açoreanos não votou. Reconheceu que não vale a pena votar, porque votar é consagrar as organizações irresponsáveis que impunemente fazem dos recursos públicos um património que gerem em benefício das suas clientelas. Em vez de votar, fizeram a sesta, namoraram no jardim, visitaram a família. Como tenho para mim que em Portugal votar é um insulto, dignificaram-se. Sabendo que nada podem mudar, ao menos não se insultaram.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Marselhesa assobiada

A França, que adora excitar-se por motivos políticos, que é o país das paixões políticas, está agora, ofendida, a analisar e a discutir os assobios que ontem sofreu o seu hino nacional, antes do começo do jogo entre as selecções de futebol da França e da Tunísia. Prognostica-se "l' échec de l'intégration de masses étrangères à notre culture", lamenta-se que muitos "ne se sentent pas bien chez nous", ameaça-se que "tout match avant lequel la Marseillaise serait sifflée serait immédiatement arrêté". Compreende-se a indignação. O Estado francês leva-se a sério e quando milhares assobiam um hino não se pode assobiar para o lado e fingir que é um inofensivo e legítimo exercício de liberdade de expressão. Não é. Assobiar a Marselhesa é declarar a repulsa pela França, é insultar os franceses. Quem assobiou? Ao que parece, pelas fotografias vistas, jovens magrebinos, que não foram impedidos de entrar no estádio, que tiveram capacidade de comprar bilhetes, que trabalham e vivem em França, provavelmente muito ignorantes da história e garantidamente muito ingratos. A França é injusta com eles? A França não os merece? Pois então, voltem para Marrocos, para a Argélia ou para a Tunísia. A França passa bem sem eles.

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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O drama de Catarina

Catarina é uma jovem menina que em adolescente, planeando o seu futuro, tomou a sensata decisão de se inscrever num partido político. Aplicada, fez os seus estudos universitários, e cumpriu os seus deveres de militante. Terá colado cartazes, oferecido panfletos, assistido a reuniões, conhecido pessoas. Como em terra de cegos, quem tem um olho é rei, alguém deu pelas qualidades da Catarina e convidou-a a integrar uma lista de deputados. E a Catarina, encantada com a ideia de trabalhar na fábrica das leis que teoricamente o Parlamento é, aceitou. Milhares de pessoas que nunca tinham visto, ouvido ou lido a Catarina, milhares de eleitores que desconheciam a existência e o currículo da Catarina, votaram na tal lista em que figurava o seu nome. Os papéis com a cruz que marcam a igualdade política dos maiores de 18 anos, sejam eles cumpridores ou criminosos, inteligentes ou idiotas, foram contados, e a Catarina foi eleita deputada, elevada a digníssima representante dos representados que a ignoravam.
Ao contrário de muitos dos seus colegas, que limitam as suas funções a carregar no botão a favor ou no botão contra, e que nunca discursam, perguntam ou propõem; ao contrário destes colegas preguiçosos ou ignorantes, tímidos ou inadaptados, que nos lembram uma "ociosidade organizada", a Catarina discursa, pergunta, redige pareceres e projectos de leis. E a Catarina, moça com neurónios activos, fez-nos saber que está agora na embaraçante situação de votar contra a sua consciência, porque é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o partido lhe determinou que votasse contra uma proposta de lei que visa reconhecer o casamento entre os homossexuais. Como é uma funcionária obediente, como sabe que deve o lugar ao patrão que a colocou na tal lista, a Catarina vai votar contra o que defende. Como muitos outros o tinham feito, a Catarina deu-nos uma real lição sobre a independência e a liberdade dos deputados: não existem. E eu cada vez mais me convenço que este Parlamento é uma instituição caríssima, irrelevante e dispensável.

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Filosofia portuguesa

Leio António José de Brito, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras do Porto, que já conhecia por ser um altivo e sólido fascista. No livro Valor e Realidade, que reúne diversos textos de filosofia, escreve-se com impecável lógica, o seguinte:

«Seja como for, a pessoa humana, de que modo a consideremos como pessoa, enquanto humana, é sempre finita, limitada, particular. Ora o absoluto é enquanto tal infinito, universal, e não conhece limites. Por conseguinte, a absolutização da pessoa humana assemelha-se totalmente insustentável

sábado, 4 de outubro de 2008

Pérolas judiciais

A Justiça anda desorientada. O que é compreensível porque o Governo não lhe facilita a vida: faltam recursos e os códigos estão inundados de inépcias jurídicas e sociológicas. Em dois dias, o sistema ofereceu-nos duas decisões que merecem registo. Assim, o Supremo Tribunal confirmou a legitimidade do despedimento de um trabalhador infectado com o vírus HIV e o Tribunal Criminal de Monsanto condenou um skinhead a dois anos e meio de prisão por "discriminação racial". Hoje, o vírus, porque há a possibilidade, por remota que seja, de o cozinheiro contaminar clientes, amanhã a obesidade, porque os clientes adoram gente magra; hoje, as imbecilidades racistas, amanhã outra qualquer imbecilidade, pois em matéria de opiniões imbecis, somos pródigos, inesgotáveis, infinitos. Ou seja, a Justiça reconhece o direito à discriminação por razões de saúde; e consagra e pune a existência de delitos de opinião. Outros, antes, com muito ardor, ingenuidade ou hipocrisia, escreveram e gritaram a "igualdade" e a "liberdade de opinião" como valores essenciais do nosso portugalzinho, intrínsecas à nossa maravilhosa "democracia". Mentiam. Como já se sabia, não são.

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Silêncio

Acabei de o dizer a uma amiga de brilhantes neurónios, que me perguntava no que pensava eu. E eu, que em nada pensava, respondi-lhe que o silêncio tem uma auréola exageradamente respeitável, pois, na maioria das vezes é timidez, ignorância e vacuidade.

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domingo, 29 de junho de 2008

Ressurreição





Sem ter ido a Jerusalém, este blogue ressuscitou, ou, mais profanamente, despertou de uma hibernação de dois meses. Estar dois meses sem escrever, quando todos os dias o mundo produz acontecimentos que podem provocar a escrita, não me é abonatório. É uma indigência mental. Uma inércia dos neurónios. Um desperdício só ao alcance do bicho homem. Um desleixo que os leitores, se os houvesse, não mereceriam.
Para reanimação, socorro-me de algumas fotografias recebidas de uma senhora professora que todos os dias, zelosamente, envia emails a todos os seus contactos. Trata-se uma prisão na Áustria. Para infelicidade dos utentes destes estabelecimentos, a prisão destina-se apenas aos criminosos condenados pelos tribunais austríacos, pois os burocratas de Bruxelas ainda se não lembraram de produzir directiva que permita ao preso escolher a prisão. Para os portugueses, que convivemos com tribunais caracóis e prisões sobrelotadas, é muito de lamentar a europeia multiplicidade de sistemas judiciais e a disparidade das suas condições materiais.

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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Parabéns

Este blogue não é invejoso. Não se agasta com o sucesso alheio. Por isso, não se pode deixar de dar os parabéns a um português que conseguiu um feito extraordinário, que merecia ampla divulgação internacional.
O português é o senhor Jorge Coelho, que durante muito anos participou num programa radiofónico, aceitando com simpatia a superioridade dos seus colegas de programa, os senhores Pacheco Pereira e Lobo Xavier, e reproduzindo com fidelidade canina e verbo monótono, a cartilha do patrão PS. O senhor Coelho conseguira a fama nacional por ser o ministro das Obras Públicas e Comunicações quando se deu a derrocada da ponte de Entre-os-Rios, a maldita ponte construída no tempo dos reis liberais que provocou a morte de 60 pessoas. Por causa da maldita ponte, o senhor Coelho demitiu-se, assumindo, com coragem de Hércules, a responsabilidade política da tragédia. As pontes caem, mas os homens que as tutelam, (que as pontes não são livres, era o que faltava) os homens que dirigem serviços incumbidos de fiscalizar e reparar as pontes, não têm, obviamente, que responder em tribunal pela queda das pontes. A criminalização do desleixo e da incompetência dos nossos funcionários públicos e políticos seria uma actividade de consequências devastadoras, que mataria os juízes de trabalhos forçados e obrigaria à construção de dezenas de prisões. E nós, constrangidos contribuintes, pouco conscienciosos cidadãos, seríamos obrigados a ir às prisões tratar dos nossos assuntos com o Estado. Além do dinheiro, o Estado acabaria a pedir-nos tabaco, bolinhos e apoio psicológico.
A proeza do senhor Coelho é, pois, esta: sendo o ministro-construtor-e-conservador-de-pontes, a queda da ponte, em vez de o obrigar ao exílio, em vez de o calar envergonhado, em vez de o forçar a servir à mesa, promoveu-o de tal maneira, que acaba de ser nomeado presidente de uma importante empresa que se dedica à construção de pontes, uma empresa que tem no Estado o seu principal cliente, e que grata, sem saber o que fazer a tanto lucro, costuma financiar as despesas eleitorais dos partidos que mandam no Estado. Talvez o dinheiro e as adjudicações feitas ajudem a explicar a proeza; porque à luz da simples lógica, se não quisermos invocar a antiquada ética, o facto é espantoso. É como se os israelitas agora elegessem para presidente da república um nazi, ou os vegetarianos desatassem a comer carne de porco ao pequeno-almoço.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Gent





Gent quase dispensa apresentações. Gent é o coração da Flandres que recuperou do inferno das trincheiras de 1914-1918. Gent é a burguesia pujante e de bom gosto, que enriquecia com têxteis, tapeçarias e transportes. E que celebrava o seu sucesso construindo igrejas que impressionam pelos naves amplas, pelos campanários que se elevam aos céus, pelos vitrais garridos que evocam a Bíblia. Gent é a cidade gótica que não esquece a punição infligida pelo seu filho Carlos V aos mercadores que ousaram contestar e defraudar o voraz fisco do império espanhol: ainda hoje os homens saem em procissão, descalços, vestindo uma túnica branca, com uma corda à volta do pescoço.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Lille






Da gelada Lille, cidade de 200.000 habitantes, que viu nascer o gigante Charles de Gaulle, que foi bombardeada e ocupada pelos alemães durante a I Guerra, un peu de la grandeur de la France.
De cima para baixo, le Palais des Beaux Artes, Jeanne d´Arc, l´église Saint-Maurice, l´empereur Napoleéon et la Vieille Bourse.

domingo, 23 de março de 2008

Brugge






Brugge, Bruges, Brugge!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Ainda não chegaram lá

Os professores estão saturados e decidiram manifestá-lo publicamente, enchendo a Praça do Comércio. Pediram a demissão da ministra, denunciaram o sistema de avaliação que está a ser implantado, lembraram a sua degradação profissional. Entende-se a revolta, que me inspira simpatia e interesse. Sem ensino seríamos ainda piores animais; no ensino, resignadas ou angustiadas, esbanjando-se, estão pessoas que estimo e admiro. A manifestação será lembrada pela adesão massiva, mas não apressou a mudança que um dia chegará. Dos 140.000 professores vinculados ao Ministério, não têm visibilidade aqueles, poucos, que defendem o fim da função educativa do Estado. O que se estranha porque o truísmo é simples: como gere o ensino reiteradamente mal, o Estado, por decoro, por respeito pelo presente, por apreço pela eficiência, por preocupação pelo futuro, deve abdicar de ser agente educativo. Da reforma da instrução primária de Rodrigo da Fonseca em 1835, que ambicionava, na sua piedosa teoria, "fundar a cidadania" e promover a "civilização geral dos portugueses" à acentuada aposta de Marcello Caetano, o Estado demorou cerca de 140 anos até concretizar o seu propósito de levar à escola todas as crianças de 6 anos.
Que o Estado não tome a iniciativa de entregar a quem sabe o ensino, entende-se, dada a coragem política e a ética da generalidade dos seus dirigentes máximos, e a tacanhez burocrática da 5 de Outubro. Que os professores teimem em querer ter tal patrão, não abona em favor da respectiva capacidade de análise e auto-estima. Mais forte que a vocação de ensinar, é a paixão do funcionário público pelo salário certo e pelo comodismo de um trabalho sem competição.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Esperança?

Foi hoje anunciada a criação de mais um partido político - o MEP, Movimento Esperança Portugal. Ao contrário da extinção do PS, da ilegalização do PCP, do desaparecimento do PSD, que são sonhos bonitos de se ter, que seriam actos de justiça que me alegrariam juvenilmente, a notícia de mais um concorrente eleitoral só me não é completamente indiferente porque escrevo sobre ela, tocado, talvez, pela infeliz pieguice do nome: combinar "Esperança" e "Portugal" é uma contradição de gosto duvidoso, uma insensibilidade histórica, um optimismo deslocado, uma ingenuidade que faz desconfiar. "Esperança" e "Portugal" não combinam e ponto final. Cada povo tem a sua cruz colectiva e a cruz dos portugueses é Portugal.

domingo, 2 de março de 2008

Sábia frugalidade

A aproximação da ditosa Primavera convida a uma frase do Desassossego que, pasme-se, não desola. Cativa e instrui.

"Concentrei e limitei os meus desejos, para os poder requintar melhor."

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Feliz ignorância

Pessoa, às vezes, incomodava-se com os outros, "que não são para nós mais que paisagem". Com malícia, talvez com secreta inveja, o ajudante de guarda-livros Bernardo Soares escreveu:

"Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes."

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Ai uma asneira

Um dos muitos defeitos deste blogue é a inexistência de asneiras. Sonoras e oportunas; divertidas ou indignadas. Para começar a atenuar tal falha, sirvo-me de Flaubert, que, confesso a vergonha, ainda não li. Flaubert teve um acesso de compreensível revolta e fixou:

"Eu estou a morrer, mas aquela puta da Madame Bovary viverá para sempre".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Língua

Hoje é o dia da língua materna. Lamentavelmente, continua a ser verdade que "a maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa". A educação é a "paixão" de todos os governos, e os portugueses, contagiados pela inépcia estatal, teimam em não se apaixonar pela sua língua, esmerando-se em maltratá-la. Só uma minoria sente que a "minha pátria é a língua portuguesa".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Birrinha aquática

Ontem e hoje, o céu cinzento, zangado, deprimente, fez cair muita água. Choveu e choveu e choveu. Se as casas mais acolhedoras com tanta chuva, as ruas acusaram os aguaceiros. Houve ruas e lojas inundadas; demoras e muitos toques nas estradas; prejuízos materiais e pessoas assustadas. E houve também declarações públicas. O ministro do Ambiente, aborrecido por ninguém o conhecer, e a quem faço a gentileza de dizer que se chama Nunes Correia, irritado por talvez ter os sapatos encharcados, tratou de sacudir a água do seu capote, responsabilizando os munícipios, acusando-os de não procederem à elementar limpeza das sarjetas. Os munícípios, claro está, não gostaram, reagiram, tendo o "chocado" presidente da ANMP, Fernando Ruas, também presidente da Câmara de Viseu e viciado em rotundas, lembrado competir ao governo a "limpeza das linhas de água". A nenhum deles ocorreu que o País tem um problema de ordenamento do território e que estas inundações são uma das suas inevitáveis consequências; a nenhum deles ocorreu assumir responsabilidades pessoais. São adultos, desempenham cargos públicos, e permitem-se ostentar alarve inocência. Quase apetece afogá-los.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Politiqueiros

É significativo que não exista um código deontológico para os políticos. Mentem e asneiram impunemente, gozando de uma inimputabilidade só tolerável a pessoas com deficiências mentais.

Abuelos

Hoje, já te lembraste da tua avó materna, já falaste com o teu avô paterno?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A ciência (des)moralizante


Para aqueles que têm a ciência em muito boa conta, segue-se um exemplo de disparatada ciência. Como são humanos, os cientistas, felizmente, também se enganam. Interpretam erradamente, ignoram, confundem, deliram. E passadas muitas décadas, divertem-nos.
«É principalmente sobre o sistema nervoso e orgãos dos sentidos que o onanismo exerce efeitos nocivos muito notáveis.(...)observou que o cérebro nos onanistas era extremamente mole e de pouca consistência.(...)As pessoas que abusam de si mesmas experimentam frequentemente(...)um enfraquecimento muito notável das faculdades intelectuais;(...)ficam embaraçados, perturbados, quando se encontram diante de alguém, fogem da sociedade, procuram a solidão, são tristes, inquietos, tímidos, atormentados pela melancolia e pelo desespero, caem em completa apatia. Muitas vezes vêm pôr termo a estes males ou a mais completa mania, ou o suicídio.»

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Pessoa I

Pessoa íntimo e universalizante, por todos compreendido e comungado:

"Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Vieira


O "imperador da língua portuguesa" nasceu a 6 de Fevereiro de 1608. Deste homem prodigioso, que defendeu os cristãos-novos e teve a coragem de denunciar os prejuízos da Inquisição; que missionou os índios com proveito e denunciou as violências dos colonos; deste poliglota que acreditava na utopia da paz universal inspirada por Cristo - aqui se deixa um pedaço do sermão aos peixes:
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

D. Carlos


Se lhe faltassem talentos, se desprezasse Portugal, não o teriam assassinado. D. Carlos, o rei que pintava, que caçava, que estudava o mar, que criava gado, e que era obrigado pela Constituição a trabalhar com políticos que o atacavam e denegriam porque "competiam ferozmente pela ascendência dentro da elite política". Com D. Carlos morreu mais que uma tentativa de regeneração do sistema. Morreu o liberalismo em Portugal. Até hoje.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Um sábado

Como gastar a tarde de um sábado? Segue-se uma abreviada e miserável descrição: evitar a companhia feminina; acordar quando se devia já ter almoçado; ser arrastado para a rua por um cão frenético; comer mecanicamente para pacificar o estômago sobras do jantar; fumar sucessivos cigarros porque os lábios inquietos e porque os cigarros um entretenimento; submeter-me às exigências da higiene e do temperamento e lutar contra o pó que parece removido mas logo se acumulará triunfante; engolir uma aspirina para cessar a enxaqueca que não massacra mas complica o alinhavar fácil de informação aos clientes que se fingem interessados; nenhum pensamento digno desse nome; apenas este texto indiscreto e que não merecia leitura.

Força Marinho

"Existe em Portugal uma criminalidade muito importante, do mais nocivo para o Estado e para a sociedade, e que andam por aí impunemente alguns a exibir os benefícios e os lucros dessa criminalidade e não há mecanismos de lhes tocar. Alguns até ostensivamente ocupam cargos relevantes no Estado Português", afirmou Marinho Pinto, bastonário dos advogados, à Antena 1.
Seria agora muito conveniente e estimulante que o senhor bastonário fornecesse indícios, facultasse provas, revelasse nomes. Que a nossa classe política é incompetente, e que enriquece graças aos privilégios, favores e negócios da coutada estatal que para si reservou, já nós há muito o sabemos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Don´t forget

Ao blogue de Jaime Nogueira Pinto, e outros, como o muito legível Marques Bessa, fui buscar uma frase judiciosa, de muito duradoura validade:
"A Government big enough to give you everything you want, is a Government big enough to take from you everything you have!"

Gerald Ford (1913-2006)

O blogue é http://ofuturopresente.blogspot.com, pouco recomendado a esquerdistas moralizantes, sem humor e memória.

Era uma fábrica

Era uma fábrica que produzia munições, explosivos e granadas, que era gerida por coronéis obrigados ao lucro, e que dava trabalho a centenas de operários. Com o fim da guerra do Ultramar, a fábrica acumulou prejuízos, tornou-se desnecessária e foi extinta. Hoje, enquanto aguarda a decisão sobre mais um projecto imobiliário de luxo, alberga uma livraria com várias salas que têm o nome de filósofos, onde podemos beber licor de uísque e folhear Nietzsche, apalpar R. Aron e escolher o Desassossego. Na livraria há ainda D. Bowie quando jovem em ecrã gigante, há descarados quadros que nos lembram as consolações do sexo, há pianos que se tocam, há corredores propícios aos beijos, aos cigarros e à palheta, há um vaivém de gente que convive animada. A livraria convida a estar e merece a publicidade. Gratuita, que eu, desgraçadamente, não sei ganhar dinheiro e gosto de gostar de sítios.
Para mais informações, ver : http://www.bracodeprata.org/

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

C.

Uma pessoa com notáveis qualidades, que às vezes se sente "estupidamente triste", lembrou-se de me prendar e envaidecer com um poderoso poema que não mereço. O poema sim, merece partilha e atenção.

Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo
pelo túnel de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade
não mereces esta roda de náusea
em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira da cidade
onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill

O pintas

Acabo de ler na gloriosa Internet uma pérola, proferida pelo juiz desembargador Alexandre Coelho, a propósito do conteúdo de uma entrevista dada por um espanhol preso preventivamente em Monsanto. Interrogado pelo DN sobre as afirmações do detido - que apelidou a prisão de Monsanto como a "Guantanamo de Portugal" - o juiz, com o primário patriotismo ferido, entende que um "detido, nacional ou estrangeiro, não será a melhor voz para avaliar um sistema em que o próprio está inserido". Para este juiz que parece desprezar o empirismo alheio , eu e a leitora, por exemplo, que nunca visitámos uma prisão, que nunca estivemos presos, seremos, porque pessoalmente desconhecedores da realidade prisional, melhores vozes para avaliar uma prisão.
Para este juiz, dotado de uma lógica que posso com intencional exagero apelidar de miserável, "um detido ou um recluso não deveria proferir declarações de avaliação" porque "não é isento", porque "a sua credibilidade está obviamente afectada". Ele, pelos vistos, que integra o topo do sistema, pode fazer declarações, e nós só podemos concluir que também ele não é isento nem credível, embora se tenha em muito boa conta. O mundo premeia gente assim.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Europa-África

Lisboa esteve cheia de ditadores de impecável currículo: vitalícios, milionários de tanta corrupção, que se esmeram a encher as prisões e os cemitérios de oposicionistas, que patrocinam terroristas, que expropriam proprietários, que consentem que milhões de pessoas morram de fome e de doenças facilmente tratáveis.
Graças a estes governantes e respectivas clientelas, África é a suprema vergonha e a diária tragédia da humanidade. A impunidade de que gozam, em casa e pelo mundo, não os corrige: ouvem propostas de investimento estrangeiro, seduzem lembrando as matérias-primas existentes, aturam sorridentes a evocação dos direitos humanos que os líderes europeus nunca se cansam de repetir, e massacram e roubam sempre que o julgam necessário ou apetecível. Percebe-se a tranquilidade dos monstros: a Europa, que pela boca de Sócrates os considerou "parceiros iguais", não assusta. A Europa cala-se. Deplora as corriqueiras "catástrofes humanitárias" mas não ousa acusar quem merece ser julgado em Haia. A Europa, que teima em não saber lidar com o seu passado recente, parece recear que os líderes africanos peçam milionárias indemnizações pelo passado colonial: malditos brancos, paguem-nos as estradas, as pontes, os caminhos-de-ferro, os portos, os hospitais, as escolas, as fábricas, que construíram e que nós destruímos. Na relação Europa-África, o absurdo é permanente.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Guerra ao invasor I


A gravura retrata o famoso embarque da família real. A 29 de Novembro de 1807, escoltada pela marinha britânica, a corte transferia-se para o Brasil. Quando entraram em Lisboa, os andrajosos franceses, comandados por Junot, encontraram uma cidade amedrontada e instruída para colaborar. As elites incensaram o invasor na esperança de conservarem o estatuto e os bens: bispos e aristocratas até foram a Baiona cumprimentar Napoleão e fingir que representavam uma nação satisfeita com a dominação francesa. Os nossos afrancesados pediam a legislação do Império, mas a feroz e corajosa resistência popular, inspirada pelo clero ou pelo despeito social, e a superioridade táctica das tropas britânicas, ensinariam aos franceses o inferno da guerra peninsular.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Uma explicação

Ai quase um mês sem escrever uma linha no blogue. Que vergonha, que desperdício! Tanta gente ainda analfabeta por esse mundo fora e eu preguiçoso, a desapontar as minhas imaginadas leitoras. Mas, porque não sou insensível aos apelos e queixumes da Ana A., venho explicar a razão do silêncio que agora quebro. Ele foi motivado por uma notícia que li na Internet e que me assustou ao ponto de paralisar o verbo: em Itália, o governo socialista do senhor Prodi parece ter a intenção de taxar os blogues. Como em Portugal o governo também é do Partido Socialista, e como é sabido que os nossos socialistas adoram imitar os camaradas estrangeiros, e não resistem a criar ou a aumentar impostos, eu receei que alguém no Ministério das Finanças estivesse já a preparar mais uma tortuosa maneira de o Estado me vir ao bolso. Como ainda nada transpirou dos gabinetes para os jornais, como parece que ainda não vão lançar esse putativo imposto, retomo a brilhante actividade do blogue. Aliviado e muito confidente.

domingo, 28 de outubro de 2007

Adeus faltas

Está a ser cozinhado o novo Estatuto do Aluno. Tem como novidade o fim das reprovações por excessos de faltas. Justificadas ou injustificadas, as faltas apenas terão como consequência a realização de "provas de recuperação". Teoricamente, isto alivia as turmas da indisciplina dos selvagens que não querem aprender e poupa os nervos dos professores. Na prática, declara a superfluidade do professor e, como diz VPV, "proclama oficialmente que o ensino é inútil". Não me indigna que os burocratas do Ministério e os membros do Governo favoreçam os ineptos, humilhem os professores e prejudiquem o País. Há muito tempo que o fazem, sem qualquer remorso. O que me indigna, o que é odioso e criminoso, é que este programa de ignorância e irresponsabilidade, custe, de acordo com a proposta do Orçamento de Estado de 2008, 4.897.968.141 euros. Sim, quase cinco mil milhões de euros para gastar com as escolas do ensino básico e secundário, onde cada vez mais se ensina e se aprende menos.

domingo, 21 de outubro de 2007

Their finest hour


Magnífico painel escultórico em homenagem aos homens da Royal Air Force que enfrentaram os aviões da Luftwaffe durante o segundo semestre de 1940. Hitler esperava que os sucessos da avassaladora Blitzkrieg convencessem o governo de Londres a uma paz que consagrasse a hegemonia alemã no continente europeu. A França, dividida e desmoralizada, rendera-se quase sem lutar. O glorioso Império Britânico não passaria pela mesma ignomínia. Resistiria e lutaria até à vitória ou à exaustão das suas capacidades. A RAF não impediu bombardeamentos de cidades industriais e de instalações militares. Não impediu o bombardeamento nocturno de Londres durante os meses de Setembro e Outubro. Mas infligiu tais perdas aos alemães, que inviabilizou a programada invasão da ilha e, mais importante, fez acreditar os britânicos na vitória. Brave british people.

Pai

Não tenho traumas provocados pela educação dos meus pais: não me espancaram, não me arruínaram psicologicamente, não me obrigaram a recorrer às mentiras comuns da adolescência. Isto não significa que a minha educação caseira tenha sido isenta de erros. E se a minha mãe se esmerou até ao excesso de saber que jamais encontrarei outra mulher que me trate tão maravilhosamente como ela, o meu pai pecou por omissões que parecem irrecuperáveis: não me ensinou a jogar a xadrez e a conduzir, nunca me disse uma palavra sobre a arte de seduzir meninas, não me obrigou a estudar Direito. Quando se empenhou, escolheu-me o clube errado. Fez-me sportinguista e o Sporting é o clube que mais gosta de desperdiçar vitórias em Portugal. Ao inculcar-me o amor ao Sporting, fez-me íntimo dos desgostos, do derrotismo, da incompetência. Se tiver filhos, serão, obviamente, adeptos do F.C.Porto. Terei o prazer de os ver alegres e confiantes, e não me acusarão de lhes prejudicar os fins de semana.

sábado, 20 de outubro de 2007

Contraste


Londres talvez seja a cidade mais multiracial da Europa, estando deliciosamente cheia de japonesas. Vaidosas, elegantes e ocidentalizadas. Eis uma delas.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Angola foi nossa

Foi hoje exibido o 1º episódio do documentário de Joaquim Furtado sobre a guerra do Ultramar. Falaram antigos guerrilheiros da UPA, orgulhosos de terem participado na bárbara chacina de cerca de 6.000 pessoas em Março de 1961; falaram antigos militares que enterraram os mortos e reocuparam territórios devastados ou desertos; mostraram-se as imagens do sofrimento das mulheres que escaparam aos massacres, e as imagens dos corajosos que decidiram defender as suas casas e negócios; viram-se excitadas manifestações em Luanda e Lisboa, em defesa da unidade ameçada; provou-se a insufieciente defesa militar de Angola, que facilitou as matanças, evocou-se o começo da luta diplomática na ONU. Faltou informação sobre a situação económica e social de Angola, mas a narração poupou-nos ao facciosimo e tentou a imparcialidade.
Estranhamente, omitiu-se a resposta de Salazar à urgência. Que foi a que qualquer outra pessoa responsável teria tomado. Vai dar-se a palavra ao Presidente do Conselho, em carta de 3 de Outubro de 1962, dirigida ao comandante-chefe interino de Angola, general Holbeche Fino.
"Tomei conhecimento do telegrama de V. Ex.ª e procurarei dar sucinto esclarecimento da situação.
Por intermédio do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas fiz chegar a V. Ex.ª a expressão do meu empenho para que não deixasse a encarregatura do governo, não só pela impressão que pudesse dar de precaridade da autoridade da província como porque, não devendo demorar mais que um ou dois dias a escolha do novo governador, seria inconveniente qualquer alteração havida aí.
Nestes termos, concordo que o Encarregado do Governo não deve dar andamento a novos diplomas durante a sua interinidade muito curta mas apenas entregar os seus maiores cuidados à manutenção da ordem pública o que é essencial neste momento, além de algum despacho urgente.
Para se compreender bem a situação é preciso ter presente que nunca esteve em causa a falta de confiança do governo no General Deslandes, mas apenas desentendimentos graves entre o Governador e o Ministro, sobretudo quanto a actos de administração, desentendimentos que tornaram impossível a colaboração e o trabalho futuro útil.
Pelo que respeita ao comando-chefe, nada houve que mereça objectar. Auxiliado por comandos das diversas Armas e unidade moral que conseguiu criar nas tropas cujo entusiasmo e dedicação patriótica pôde aproveitar a bem da causa nacional, o General Deslandes foi merecedor do apreço geral. Por isso, ao exonerá-lo do comando-chefe (visto a sua exoneração de governador-geral), pude com satisfação e justiça assinar portaria de significativo louvor e propor ao Chefe de Estado condecoração condigna.
Quanto porém à administração, sobretudo devido à falta de experiência dos colaboradores imediatos, a situação criada não podia continuar e tem de sofrer modificações sérias.
Criou-se na província ambiente de euforia quanto à possibilidade de obter financiamentos externos avultados e quanto à possibilidade da execução de grandiosos melhoramentos cuja rentabilidade económica está longe de se encontrar averiguada.
Lançaram-se na opinião sugestões e planos que facilmente aqueciam imaginações, deste modo presas a miragens de impossível realização imediata. A consequente decepção de não se conseguirem os meios financeiros ou de não se executarem largos planos apresentados havia de criar clima político inconveniente, senão perigoso. Devia pôr-se ponto em tal encadeamento de sucessos para se operar um desvio, tanto mais necessário, que ao mesmo tempo se notavam na administração tendência socializantes contrárias aos princípios constitucionais.
É evidente que as oposições deviam apoiar essa orientação por ser previsível não nos podermos desembaraçar das dificuldades criadas.
Relativamente à política ultramarina e processamento de eventuais modificações nada há, segundo creio, que explique a sensação de perplexidade no seio das populações, se dedicadas à nação portuguesa.
A convocação dos membros eleitos dos Conselhos Legislativos para serem ouvidos sobre algumas alterações da Lei Orgânica do Ultramar não tem significado especial, pois que as aludidas alterações dizem apenas respeito a três pontos:
a) possível aumento dos membros eleitos;
b) definição de pelouros a atribuir aos secretários provinciais;
c) eventual criação de um órgão consultivo (o Ministro tem-lhe chamado Câmara de reflexão), a ouvir antes de o Conselho Legislativo se pronunciar sobre os diplomas.

Noto porém que a convocação algum tanto espectacular dos tais vogais eleitos para Lisboa começou a despertar nalguns (até aqui e com preocupação) a ideia de uma convocação de “Estados Gerais da Nação” para definirem o futuro estatuto político desta.
Como digo acima, nada disto está em causa, mas chegam notícias de ideia extravagantes e pretensões insólitas - os vogais eleitos desejariam ter direito de voto; as associações de naturais pretenderiam ser convocadas também; as associações económicas que penso estarem hoje em mãos oposicionistas entenderiam também ser ouvidas.
Este movimento reputo-o perigoso se não conseguirmos canalizá-lo e reduzi-lo ao razoável porque a tendência seria levar os problemas até soluções extremas inaceitáveis.
Penso que o General Deslandes não terá feito nada que justifique a ideia de estar-se a caminho da mudança da nossa política. Como várias vezes tenho afirmado, a autonomia administrativa pode ser maior ou menor segundo a capacidade das elites provinciais.
Essencial é apenas “solidez de laços políticos” que unam os vários territórios da Nação. Só por esta nos sacrificamos e o Exército aí se bate e está a postos noutras partes.
Vejo com estranheza a mágoa que alguns daí, cujas vidas e interesses a força armada salvou, têm a ideia de entendimentos com o inimigo para salvar de futuro umas e outras.
Pensam alguns que ANGOLA pode ser um Estado branco independente e outros que por acordos irrelevantes poderiam constituir um Estado misto ou multirracial.
É preciso ter bem presente que no estado actual da política do mundo em África só são admissíveis Estados independentes de raiz inteiramente negra ou então territórios em que a soberania é de raiz europeia. Por esta solução temos lutado e é revoltante que se pense aí haver outras possibilidades.
Em conclusão:
a) relativamente à parte militar, há que continuar o trabalho do General Deslandes, mantendo as forças na mais intensa actividade contra os terroristas e na defesa das populações de qualquer cor;
b) quanto à administração, há alterações profundas a introduzir, tanto na orientação geral como na acção administrativa;
c) quanto à política ultramarina, não há razão para se alterar - continuaremos a defender uma ANGOLA portuguesa ou mais claramente uma ANGOLA parte integrante de Portugal.

Será muito difícil convencer as pessoas responsáveis de que não só não têm outra opção mas que Portugal não pode sacrificar-se por solução diferente?
Com respeitosos cumprimentos
O Ministro da Defesa Nacional"

London beauty

Uma senhora que parece uma menina, serenamente sentada no buliçoso mercado de Portobello Road.

domingo, 14 de outubro de 2007

Eu sabia

Eu sabia que estava cheio de razão quando há dois anos fechei a conta no BCP e depositei as parcas poupanças no Montepio. Banco careiro, com funcionários impossíveis de empatizar que acumulam horas extraordinárias e fazem telefonemas agrestes a clientes por ninharias, com gestores que auferem ordenados obscenos, com uma publicidade massacrante, não merecia os meus tostões. Hoje, fiquei a saber que é uma instituição com duvidoso sentido de humor, que divulga publicamente anedotas susceptíveis de ofender muitos clientes. Os jornais semanários noticiaram o perdão de uma vultuosa dívida a uma empresa de que era accionista o filho de Jardim Gonçalves. Entre 12 a 15 milhões de euros. Para o BCP, e aqui se chega à anedota, o "processo de anulação das dívidas seguiu o procedimento idêntico ao de qualquer outra empresa cliente do banco que entra em situação de dificuldade financeira”. O BCP empresta dinheiro, as empresas entram em falência, e o BCP, filantrópico, generoso, compreensivo, cristão, qual hipoteca, qual tribunal, perdoa as dívidas e oferece um jantar. Primeiro, ri-se. Depois, muda-se de banco.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

David Bowie - Ashes to ashes

O bom inglês

Absolute Beginners - David Bowie

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Societa Iesu

A 27 de Setembro de 1540 o Papa Paulo III aprovava, finalmente, a Companhia de Jesus, idealizada e criada pelo basco Inácio de Loyola. Inácio conhecia as durezas da guerra, peregrinara na Terra Santa, aprendera na Universidade da Salamanca, e vivia em Paris, quando em 1534, com mais sete companheiros, pronunciou os habituais votos de pobreza e castidade. A estes juntaram a obediência total ao Papa. Inácio sabia que Roma não era flor que se cheirasse: o Papado viva no luxo, na luxúria, no nepotismo, na rivalidade política entre as grandes famílias da fragmentada Itália, incapaz de travar a implantação do protestantismo por vastas regiões da Europa.
Se no mercado religioso europeu havia um concorrente de respeito, nas Américas, na África e na Ásia, abundavam os gentios que desconheciam o Evangelho. Dar-lhes a conhecer Cristo era o grande objectivo dos jesuítas. Era a oportunidade de redenção e de expansão da fé. Imbuídos de curiosidade e respeito pelas culturas autóctones, dotados de sólida formação teológica e de coragem física, os jesuítas partiram à evangelização do mundo: em 1542 estavam em Goa, em 1549 no Brasil e no Japão, em 1560 em Angola e Moçambique, em 1565 em Macau, em 1583 na China, em 1624 no Tibete. Não eram muitos, mas eram bons. Ensinavam o catecismo, criaram e geriram dezenas de colégios do ensino secundário, visitavam presos e doentes, conheceram o martírio. Sem a acção missionária dos jesuítas o Catolicismo não seria hoje, presumivelmente, uma religião mundial. Não é assim, Filipa?

PSL

Pedro Santana Lopes esteve ontem impecável na SIC-Notícias. Ofendido pela interrupção da sua entrevista por mais uma vácua reportagem em directo, questionou a jornalista sobre a estupidez do acto e acabou com a entrevista. Não pactou com a amoralidade, o sensacionalismo e a falta de educação. Deu uma lição. Dignificou-se.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O engenheiro na Casa Branca

O Primeiro-Ministro esteve na Casa Branca, a conversar com o Presidente Bush. Uma das fotografias da praxe informou-nos cabalmente: Sócrates estava orgulhoso de ali estar a viver a sua consagração internacional. Bush percebeu a alegria do visitante e teve a bondade, ou a ironia, de agradecer o apoio de Portugal às intervenções americanas no Iraque e no Afeganistão. E Sócrates teve o bom senso de não arruinar o ambiente, não interrompendo Bush para lhe contar como em 2003 criticara, com aspereza e populismo demagógico, a concordância do Governo de Barroso com a invasão do Iraque.
Como o Estado português desperdiça todos os anos, em despesas supérfluas, centenas de milhões de euros que depois muita falta fazem, a nossa efectiva contribuição reduziu-se a pouco mais de 100 homens da GNR no Iraque e a acerca de 150 militares do Exército do Afeganistão. Ninguém pode acusar Portugal de esconder ou dissimular a sua insignificância internacional.

Dalai Lama

O Dalai-Lama, líder espiritual do povo tibetano, esteve em Portugal. Distribuiu sorrisos de simpatia, pregou a serenidade interior, o altruísmo e o desprendimento material em conferências, reclamou autonomia para o seu Tibete ocupado pela China, confraternizou com autoridades religiosas, exercitou a paciência na visita à Assembleia da República. O Governo, por "razões óbvias" não teve a delicadeza de convidar o Dalai-Lama para um ameno chá. Para alguns jornalistas muito mais opinativos que este blogue, as razões eram o respeitinho subserviente às autoridades de Pequim, a preferência em agradar à China, em detrimento do apreço a um prémio nobel da Paz e da imperativa valorização dos direitos humanos. Os jornalistas julgaram que o raciocínio do ministro Luís Amado tinha sido mais ou menos este: recebemos o homem e os chineses pedem acrimoniosas explicações, desistem daquele rentável acordo comercial que demorámos meses a negociar, e, para cúmulo, esquecem-se de nos convidar para a abertura dos jogos olímpicos.
Isto é lógico, mas também me parece superficial. Para mim, o ministro Amado não recebeu o Dalai-Lama, sobretudo, por uma de duas razões: ou porque quis evitar, na sua intimidade, o incómodo de sentir uma inferioridade moral que o deprimiria; ou porque entendeu que a espiritualidade do tibetano poderia prejudicar aquele cínico estado de espírito, tão necessário ao exercício das funções diplomáticas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Nestum


Fidelidade, é comer nestum há mais de 25 anos. Mãe, mima-me com o teu nestum de mel.